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Não Há Temas Virgens; Tampouco Algo Sobre o Qual Seja Impossível Escrever

Mil anos atrás, ainda na Faculdade de Jornalismo na USP, duas colegas e eu fizemos super matéria,  incluindo  entrevista, inédita com Zé Bétio, que ganhou quatro páginas do Folhetim, suplemento dominical da Folha, o máximo em termos de reportagem na época.  Aí, eu e elas começamos a procurar temas virgens.  Embora todos dissessem que não havia tema algum sobre o qual nada tivesse sido feito,  ainda descolamos mais três, igualmente inéditos, também publicados na Folha.

Longa troca de emails essa semana com o assíduo leitor Pawlow,  titular de um blog, discutíamos sobre  temas importantes e não importantes para se escrever a respeito.  Ele dá imensa prioridade para temas de peso, que lhe permitem mostrar destreza.

Já eu, sou exatamente isso; isso ao contrário.  Pouco minutos  atrás acabei de publicar um texto sobre assunto bobinho ,  porém divertido; pelo menos divertido para se escrever,  a respeito de declarações polêmicas de Luana Piovani.

Acabei de publicar aqui no blog, lembrei-me das reportagens inéditas   no Folhetim e Folha, lembrei-me da saudável polêmica com o amigo Pawlow e cheguei à  agradabilíssima conclusão.  Lá vai.

Tanto quanto não existem assuntos virgens, também não há tema sobre o qual não se possa fazer um registro curioso, interessante; na pior das hipóteses, engraçadinho – assim mesmo no diminutivo.  Graças a Deus é isso  e eu aproveito o máximo dessa teoria (conclusão)  que acabei de inventar.  Ficaria contente de convencer o amigo Pawllow.

Leia meu texto bobinho sobre La Piovana – Clique Conheça o Blog do Pawlow, CADERNOS,  recheado de textos densos, porém bem mais esporádicos do que os meus.  Se não tiver tempo de folhear  muitas páginas dos Cadernos, leia ao menos essa sensível crônica/ensaio sobre Cemitério do Bonfim, em Belo Horizonte, já mencionado  muitas vezes no Boca, inclusive muito recentemente. Clique

Categoria Casos – No Boca – Reaberta; O Primeiro com Sílvia Poppovic

Há algum tempo Fernando Pawlow, que prefere ser chamado simplesmente de Pawlow,  um dos leitores mais fiéis e atentos do Boca, vem insistindo para que eu publique  os  casos que conheço de jornalistas, políticos, artistas  e ainda passagens corriqueiras, porém curiosas, da minha vida, de amigos e conhecidos.

Na verdade, já tenho uma categoria (capítulo) no blog Intitulada Casos.  Ou seja, o que preciso mesmo é revigorar/reinaugurar essa área do blog.  Já citei esse fato, a sugestão do Pawlow; se  quiser ler, clique aqui

Para marcar essa nova etapa da Categoria Casos, descrevi recentemente   dois episódios dos tempos de Faculdade   que tiveram Silvia Poppovic como protagonista.  Ela leu a primeira versão, sugeriu mudanças ínfimas;  enviei-lhe  o novo texto que foi aprovado sem qualquer reparo.

Embora já tenham me ocorrido episódios novos para narrar, um inclusive a partir da troca de emails com o próprio Pawlow,  vou usar de pequeno artifício para alimentar a reinaugurada seção de casos.

Logo no primeiro mês de vida do Boca, publiquei uma meia dúzia de contos e ainda, em um único post,  para o qual dei o nome de Cenas, cerca de 20, 25 histórias rápidas e despretensiosas (aliás, tudo que escrevo aqui é despretensioso – essas historinhas, mais ainda).  Pois bem, vou subtrair esse post do Blog e voltar a colocar esses casos um a um.  Não para encher lingüiça, mas para valorizar cada episódio  o quanto  ele merece.

Se quiser, antes de começar a leitura, dê uma olhada no blog do Pawlow, clique aqui

Como foi dito, o primeiro episódio tem Silvia Poppovic como protagonista.  Lá vai.

A Sílvia Poppovic de Sempre

Sílvia Poppovic sempre foi a Sílvia Poppovic que você conhece.  Meu saudoso irmão Beto, Antônio Roberto Sampaio Dória, você não conheceu,  mas quase todos os profissionais do Direito das décadas de 60,70, 80 e comecinho de 90 o conheceram:  com 26 anos, era Professor do Largo São Francisco e com 32, salvo imenso engano meu, tornou-se o mais jovem catedrático da Universidade de São Paulo.

O Beto era muito inteligente, obstinado,  mas ia fazer uma brincadeira e a coisa virava  desastre.  Entretanto,  nas ocasiões  decisivas e até perigosas,  que já enfrentamos juntos, saía-se bem e, por incrível que pareça,  com muito  humor.

Eu era o irmão  homem caçula, o queridinho do Beto,   que também  era meu padrinho de batismo.  Talvez ele nos visse trabalhando juntos nos diversos poderosos escritórios de advocacia dos quais foi sócio a vida toda.

Mas eu decidi fazer jornalismo e, quem sabe,  isso o tenha frustrado um pouco.

Na ECA, Escola de Comunicações e Artes,  quiçá em toda a Cidade Universitária, e até mesmo na USP inteira,   Ramio  era o xodó.   Muito, mas muito culto mesmo com seus   apenas 20 anos de idade, também se destacava na liderança do  Movimento Estudantil que  estava ressurgindo.    Cabelos longos até os ombros e barba,   Ramio  tinha o visual  hippie, tão em moda na época.  Não só o visual, como razoável   aversão a banhos, faziam dele um semi-hippie, já que morava com a  família muito bem estruturada, pai médico,   e sempre chegava à Faculdade de Carro.

Sílvia Poppovic também estudou na minha turma e de Ramio.   Aliás, eu já havia sido colega de classe  da Sílvia no terceiro colegial,  no  Equipe.

Característica da Sílvia sempre foi a espontaneidade,  falar o que lhe desse vontade.

Outro parêntese, Sílvia tinha uma definição muito boa.  Dizia ela:

– Guiar, escrever à máquina (hj seria operar computador) e falar inglês não são méritos.  É obrigação.

Graças a Deus e ao meu esforço, sei todas as quatro, já que até  curso de datilografia eu fiz.  Meu pai acrescenta ainda nadar, como indispensável. Concordo.

Voltando, em 1975, no meu aniversário,  Sílvia e meu saudoso irmão Beto travaram uma boa polêmica, exatamente a respeito da profissão de jornalista.   Na hora do Bolo, um delicioso bolo de chocolate,   Beto  dá um prato para a Sílvia.  Divertindo-se, ela diz que não iria comer o bolo que ele havia cortado  e que tampouco  qualquer  colega de faculdade  aceitaria aquele pedaço.

Beto passou o bolo para outro amigo meu que ele já conhecia há muitos anos e sabia não ser da turma da Sílvia.

Comentei esses dias com a Sílvia e ela disse que deve ter sofrido, já que sempre adorou bolo de chocolate.  Aí, eu disse  que ela comeu outro pedaço de bolo, cortado por outra pessoa.

Voltando ao nosso líder  da USP.

Um dia Ramio aparece na faculdade, com seus longos cabelos molhados,   cara de quem havia saído do chuveiro momentos antes.

Sílvia fala:

–  Que bonitinho,  camisa branquinha, macacão passado…

E não pensa duas vezes.

Encosta a cabeça no ombro de Ramio, com o nariz virado para baixo e anuncia:

– Hum…!!! Está até cheirosinho!!!

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Quando mandei o texto para Sílvia aprovar, ela disse que eu devia ter colocado o nome inteiro do Râmio, ao invés de protegê-lo.

Eu acho melhor deixar desse jeito e tenho certeza de que ela também vai aprovar.  Assim, apenas eu, ela, o próprio Râmio e os outros poucos que presenciaram a cena vão saber de quem se trata.