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Lap Top, Sonho; mimeógrafo, realidade

O sonho nos gabinetes de Brasília, incluindo no do presidente da República, é com crianças de escolas públicas de todo o país usando seus lap tops individuais. Dezenas e dezenas de milhões de computadores. Mas a realidade do ensino brasileiro está a anos luz disso. Anos Luz mesmo!!!

Dedicadíssima professora de Escola Estadual de São Paulo, na tentativa de incrementar suas aulas e despertar o interesse dos alunos, tem por hábito preparar folhas com exercícios e distribuir em classe.

Faça agora um brutal esforço de imaginação para adivinhar como essas folhas são produzidas. Esforce-se um pouco mais. Tenho certeza de que você não chegou nem perto.

Terminou o tempo!!!

Muitos fins de semana, em casa, ela coloca folhas de estêncil em sua máquina de escrever e datilografa os exercícios. Você não sabe o que é estêncil e suponho não ter capacidade de explicar. Assim, colo o verbete do meu Aurélio Eletrônico.

“Folha de papel recoberta por substância gelatinosa e gravada ou perfurada por estilete ou por máquina dactilográfica, de jeito que, ao passar entre um rolo de tinta e uma folha de papel em branco, nesta reproduz fielmente as letras ou desenhos traçados; matriz.”

Tradução livre: trabalho desumano, extemporâneo, absurdo, estressante, já que não se pode cometer qualquer erro. Isso sem contar que a pessoa, ao fim de poucos minutos, fica azul, literalmente azul da tal da tinta. Mas a missão da nossa heroína ainda não terminou. Em seguida, ela coloca o tal do estêncil no mimeógrafo e imprime a astronômica quantia de… 32 cópias (uma para cada aluno).

Famoso dramaturgo brasileiro, para mostrar o ritmo alucinante de seu trabalho de colocar um capítulo por dia de novela no ar, disse, em palestra em meados dos anos 70 (quase quarenta anos atrás), que já escrevia direto no tal do famigerado estêncil.

Dramaturgo sempre ganhou muito bem e sujou seus dedinhos a preço de ouro há infinitos anos. Agora, permitir que dedicadas professoras trabalhem, fora do expediente, em condições da pré-história, em pleno século 21, é absolutamente inconcebível, verdadeira barbárie.

Governadores, prefeitos, secretários e Ministro da Educação estabeleçam e destinem verbas por decreto para que, enquanto não chegam os tais computadores de 100 dólares, todas as escolas sejam obrigadas a ter ao menos um computador, com programa de texto, naturalmente, e uma impressora.

Em tempo, a dedicada professora não dá aula em escola da margem esquerda do afluente do Rio Amazonas. Ela trabalha bem próximo ao Shopping Morumbi.