Sim, tinha onde cair morto. Desde que imergisse perpendicularmente.
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Microconto* – Oito Arrobas
Praticamente só banha naquele corpo de leitoa. D` alma e do espírito da mulher transbordava merda.
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*116 dígitos, incluindo título
Microconto* – Tempo
Jovem, não imaginava que a tatuagem, essa sim, seria eterna.
*65 dígitos, incluindo título.
Microconto – Arrogância
Se achava. Perdeu.
Microconto – Cocada
Começou a se achar a rainha da cocada preta. Tornei-me racista: com ela, e com sua cocada.
Há dinheiro que pague
A proposta era fazer texto, prosa ou poesia, usando anáfora – “repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases, de membros da mesma frase, ou de dois ou mais versos” Lá vai meu conto, cheio das minhas idiossincrasias.
Sou redator de publicidade, ganho dois milhões por mês. Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar, taquicardia.
A Microsoft contratou a agência onde trabalho para a campanha do novo smarthphone para adolescentes.
Adivinha um, a dupla escolhida foi a minha.
Adivinha dois, o briefing traz as palavras chaves que, obrigatoriamente, deverão ser usados: expressões batidas, nada além de expressões batidas.
Sou redator de publicidade, ganho dois milhões por mês. Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar, taquicardia.
Veja as palavras. Vou me limitar a copiar e colar para não ter que escrever, pois, como você sabe, sou redator de publicidade, ganho dois milhões por mês. Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar, taquicardia.
Aliás, vou pedir para minha secretária fazer isso, já que não consigo, sequer, olhar para as malditas palavras e expressões.
Ela fez:
• Poderosa
• Diferenciados
• Tal coisa é a minha cara•
Tudo de Bom
- • Bombar
• Eventos
• Rolar, no sentido de acontecer
• Galera
• Caiu a fixa
- Ninguém merece
- Menos é mais E, obrigatoriamente, no anúncio para televisão, um dos jovens que aparece, ao invés de falar “liga pra mim, mais tarde”, faz o gesto de botar o dedão no ouvido e o minguinho na boca. Deveriam cortar a mão de quem faz esse gesto, como disse conhecida minha. Sempre odiei isso. Quando a ouvi se expressar com tal veemência, fiquei em êxtase.
Mas achei solução, afinal trabalho com criação, essa rima ficou bonitinha, não ficou?
Combinei com o diretor de arte que ele faria o trabalho com redator amigo nosso de outra Agência de Publicidade. Os dois aceitaram e me prometeram sigilo absoluto. Como teriam que trabalhar fora do expediente, prometi quinhentos mil reais para cada um.
E mais, programei viagem para nossa filial no Rio de Janeiro, exatamente no dia da apresentação da campanha para o cliente.
Afinal, sou redator de publicidade, ganho dois milhões por mês. Tenho ojeriza a chavões e terminhos da moda. Só de pensar, taquicardia.
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Na verdade, o texto acima é uma colagem de dois outros já postados aqui: Rico Vocabulário e Rico Vocabulário 2. Também há texto aqui sobre fabulosa peça de Lúcio Mauro Filho em que ele passa o espetáculo inteiro só falando Clichês. Quiser ler e assistir a um trecho, clique
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Esses tópicos ficaram meio fora de ordem por culpa do blog e não por falta de tarimba minha para trabalhar com ele, afinal já são mais de 10 anos.
Couve-Flor
Haicai meu razoável; razoável porque contém algumas imperfeições técnicas.
Água na Boca
No Almoço Dominical
Couve-flor e bife
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Gostou? Quer saber mais sobre haicai? Então, clique aqui
Conheça os haicais de Millôr Fernandes, clique
Microconto de Três Palavras*
Alimentava-se de insatisfação.
* Variação mais restrita desse anterior: Nasceu para viver insatisfeita e insatisfazer.
Dar Errado
Conto inspirador para sexta-feira ensolarada. Com os votos de que todos (e todas) nós tenhamos algumas tardes parecidas com essa ao longo de nossas vidas.
Lá vai:
Ele estava sentado no banco de madeira em frente ao Café do Ponto do Shopping, conforme fora combinado. Parecia ter 25 anos e não os trinta e nove que realmente tinha, segundo me contara no Site de Relacionamento (leia-se paquera) AMIZADES, NAMOROS E TRANSAS. Trinta e cinco já era bastante jovem para mim, experiente mulher de 47.
Ele lia a parte de Futebol do caderno de esportes da Folha, mostrava-se distante e entretido com reportagem que falava das proezas do Neymar.
Olhei-me no espelho da bolsa. Estava ótima, principalmente, sensual e sedutora. Respirei fundo, contei até três e fui:
– Oi Roberto, tudo bem? Mas que agradável surpresa ver que você mantém a plena forma dos que ainda nem entraram nos trinta.
Levantou a cabeça, cumprimentou. E, rápido, dominou a cena:
– Pode me chamar de Ro. E você, qual seu apelido para os amigos.
– Flor, Flor, como lhe escrevi.
-É mesmo, que cabeça a minha…
– Chopp, café, suco, sorvete, o que você bebe, Ro?
– Adoro chopp, mas só bebo a partir das sete. Ainda faltam algumas horas. Que tal sorvete?
– Você é quem manda. Como diz a música, eu sou apenas uma mulher…
– Uma mulher, não, Flor. Você é a mulher. Uma chácara de Flores.
– Chácara de Flores, Ro? Nas mensagens você se mostrava bem mais criativo.
– Ora, quando teclava com você, sempre deixava aberto ao meu lado dicionário, dicionário de regência e livro com frases poéticas…
– Você é muito espirituoso, isso eu já percebera desde o início.
– São os seus olhos, digo, ouvidos!!!
– Tô começando a me arrepender de ter vindo, você é melhor atrás de um teclado.
– Sério mesmo? Com essa você me arrasou.
– Brincadeira, bobinho. Você é uma graça, melhor do que a encomenda.
– Agora, eu é que tô começando a gostar da coisa.
– Sorvete do que, perguntei?
– Chocolate. E você?
– Morango.
– Posso dar uma lambidinha, ele perguntou.
– Não, eu disse!
– E no sorvete?
– Por favor, piada velha não!
– Eu perco a mulher, mas não perco a piada!
– Tirando as piadas, você é bem melhor ao vivo. Aliás, nem parece a mesma pessoa…
– Já lhe disse, eu caprichava, era tudo quanto era dicionário aberto, para tentar impressionar você.
– De fato, você é muito diferente mesmo do que me pareceu no site. É espantoso – parece outra pessoa.
– A propósito do site,” é namoro ou amizade”?
– Agora sim, acertou na piadinha. Respondo: é amizade! Você está com café no lábio. Deixa eu limpar…
– Ei, você falou limpar e não dar selinho!
– Não gostou, Rô?
– Adorei. Que tal promover esse selinho a beijo, beijo de homem e mulher?
– Aqui, Rô?
– Sim, só o primeiro, os seguintes podem ser na minha casa, a duas quadras. O que acha?
– Acho cedo, mas topo. Só beijinhos, hein?!
– Lógico, beijinhos, nada além de beijinhos.
– Ei, não desabotoa minha blusa, tem câmera no elevador. Nossa, como você é atrevido???
– Atrevido não, arrojado. Atrevido é adjetivo para político e empresário safados. Arrojado, para John Mcenroe, Nélson Piquet , Mick Jagger e até para pessoas comuns, como eu.
– Você não tem nada de comum. Mas pára de querer tirar a minha blusa!
– Nossa, eu nem fechei a porta e você já se livrou da blusa e até do Soutien!!!
– Meu próximo passo é rasgar a sua camisa.
– Não, eu adoro essa camisa! Eu mesmo tiro!
– Aproveita e também se livra da calça.
– Mas que cama gostosa.
– Gostosa como você, merece cama gostosa.
– Acho melhor pegar seus dicionários…
– Eu vou pegar é a sua calcinha e” pendurar ela” no lustre, isso sim!
– Nossa, mas que uísque perfeito para depois de uma transa perfeita.
– É o novo Jack Daniels. Adoro.
– Rô, Rô.. Jamais poderia supor que mero site de paquera poderia me proporcionar tanto êxtase em uma única tarde. Espero que a primeira de uma infinita série…
– Flor, Flor, posso confessar uma coisa para você?
– Lógico…
– Não vou dizer que não tenho computador, porque seria mentira, mas não estou no Facebook, tampouco em qualquer outro site de relacionamento e sequer sabia da existência desse tal de Amizade, Namoro e Transas.
– Puta Merda, dei pro cara errado.
– Flor, é a tal História: Quem dá errado dá duas vezes. Meu nome é Carlos, muito prazer!!!
Fumo da Lata e Microcontos da Caixinha (5)
SE VOCÊ JÁ LEU OS QUATRO ANTERIORES, A ABERTURA É A MESMA, VÁ DIRETO AO MICROCONTO (título em negrito)
Fins de setembro de 1987, 18 latas, como essas em que se vende leite em pó, foram encontradas boiando, em Maricá, a cerca de 60 km da cidade do Rio de Janeiro. Dentro, entretanto, não havia leite, mas maconha. Cerca de um mês antes, 22 toneladas de maconha, de excelente qualidade acondicionadas em latas, foram despejadas no mar, entre Rio e São Paulo. Os traficantes estavam sendo perseguidos pela polícia e descartaram a droga.
Todo vendedor de fumo da época dizia que o seu era proveniente das tais latas. O Historiador Burns, salvo engano, dizia que se “juntassem todos os pedacinhos de madeira vendidos como tendo feito parte da cruz em que Jesus Cristo foi crucificado, daria para se construir um navio. Pois bem, se fosse somado todo o fumo vendido como fumo da lata, não daria 22 toneladas, mas dois Pão de Açúcar. Fernanda Abreu, em uma de suas músicas, fazia referência ao tal fumo da Lata.
Quase trinta anos depois, professora Esther Proença, de Criação Literária, propôs que fossem feitos microcontos, de 15 palavras, incluindo o título, cujo enredo poderia acontecer no espaço restrito de uma caixa de fósforo. Para dar mais graça, pediu que os textos fossem apresentados dentro de uma caixinha de fósforo e no exterior o título e o pseudônimo do Autor.
Fiz diversos microcontos. Vou postá-los aqui no Trombone, homeopaticamente, sempre como essa mesma introdução.
Modesta Embalagem*
Aniversário da Namorada. Caixinha de Fósforo. Dentro, elegante aliança.
* Onze palavras