Nova tragédia causada por criança/arma de fogo, que ocorreu hoje, deveria causar uma ponta de remorso em todos aqueles que votaram contra a Proibição do Comércio de Armas de Fogo no Referendo de 2005. Desta vez, garoto de 10 anos atirou contra a professora em São Caetano e se suicidou. A professora,Rosileide Queiros de Oliveira, de 38 anos, segundo nota da prefeitura, apresenta quadro estável e não corre risco de morte. Pelas informações que se tem até agora, o garoto era filho de Policial. Nesse caso, como o pai do garoto é policial, e a arma faz parte da rotina dele, se o comércio de armas tivesse realmente sido proibido através do Referendo, talvez pouca diferença fizesse.
Nos últimos dias de 2008, uma briga à toa de família terminou com uma morte e dois feridos na Vila Mazzei (norte da Capital, Paulista). Segundo os jornais na época, o criminoso era doente e tomava remédios contra esquizofrenia. Mais recentemente, começo de outubro de 2010, criança de 9 anos morreu em Escola em Embu das Artes, atingida por disparo de uma arma que teria sido levada à escola por um colega.
Não se passou nem um ano, e nova tragédia.
Em 2005, às vésperas do Referendo, escrevi texto que já publiquei aqui e, infelizmente, sua leitura, uma vez mais, se torna oportuna. Novas campanhas têm sido feitas pelo desarmamento, e talvez esse fato que ocorreu hoje pese bastante.
Abaixo o texto que escrevi em maio de 2005 – Com direito a lição de quem entende do assunto – Um Bandido – Em outubro, houve o Referendo.
O referendo sobre o fim da comercialização de armas de fogo no país deverá ser realizado no próximo dia 2 de outubro. Não sei se já está aberto o período de “propaganda”; de qualquer forma, quero dar um pontapé inicial.
Sou visceralmente a favor do fim da comercialização de armas de fogo (e também de munição) no país. E olha que não me lembro nos últimos tempos de ter tido oportunidade/vontade de empregar o advérbio visceralmente em relação a qualquer crença ou opinião minha. Sou “muito” (não fanático) corintiano , mas aí é outra conversa que pode até render um artiguinho divertido.
Retomando o assunto e já explicando o porquê do meu voto. Sempre fui contra armas de fogo. Para arraigar mais ainda minha opinião, relato dois casos. O primeiro, aliás emblemático, com direito à opinião de grande especialista no assunto: um assaltante. O segundo se passou comigo há muitos anos.
Um conhecido me contou que seu irmão, médico dedicado/obstinado, recebeu um assaltante em estado deplorável alvejado com diversos tiros, praticamente morto. A determinação, talento, boa vontade do irmão de meu conhecido salvaram o paciente. Imensamente agradecido, ele disse:
– Doutor, o senhor salvou minha vida. Eternamente serei grato ao senhor. Não tenho como pagar o que o senhor fez por mim, mas vou lhe ensinar uma coisa que um dia talvez também salve sua vida.
O assaltante continuou:
– Doutor, jamais tenha uma arma de fogo em casa. Se eu e o senhor nos encontrarmos cem vezes, os dois com uma arma, eu mato o senhor cem vezes antes mesmo de o senhor pensar em encostar o dedo no gatilho!!!!!! – disse sorrindo.
O assaltante ainda explicou que muitas vezes o assalto é feito exclusivamente para roubar a arma que alguma empregada viu e comentou na vizinhança.
Há mais de quinze anos, entro no consultório que meu dermatologista dividia com outros dois profissionais de saúde, um deles dentista de crianças excepcionais. Sou recebido por um assaltante com um revólver na cabeça. Havia um outro assaltante e uns quinze assaltados, entre médicos, pacientes (incluindo uma criança excepcional) e enfermeiras. Nunca tive muita paciência/vontade de liderar grupos, quaisquer que fossem. Mas ali era diferente: tava todo mundo apavorado, os ladrões eram inexperientes e um deles, além de tudo, um maluco que estava louco para dar tiro em alguém. Eu, o único que ainda mantinha a calma e o bom senso e, contra a minha vontade, por uma questão de sobrevivência coletiva, tive que assumir a condução da coisa. Depois de várias intervenções minhas, o assaltante sádico que tomava conta da gente (o outro havia saído para descontar o cheque que meu médico lhe entregou) fica brincando de tirar e colocar as balas no tambor de um dos revólveres. Ele coloca as balas, abandona a sala e deixa esse revólver ao alcance de qualquer um. Obviamente, fiquei morrendo de vontade de pegar a arma, me esconder e, quando ele voltasse, eu apareceria pelas suas costas e o renderia. Obviamente, me contive. Passam-se uns dois minutos, ele volta e vê o revólver no mesmo lugar. Ele pergunta olhando para mim:
– Ninguém pegou o revólver????
Eu disse que o revólver era dele e que, naturalmente, ninguém o pegaria.
Sempre olhando para mim, ele diz:
– Que sorte. Estava sem bala.!!!!!!
E puxa seis vezes o gatilho.
Imagine se eu tivesse bancado o herói. Provavelmente ele iria me deixar “atirar” e, em seguida, com a consciência tranqüila, em “legítima defesa”, me mataria e daria início ao showzinho maluco/sádico dele.
O outro assaltante voltou com o dinheiro e tudo acabou bem, sem um único arranhão sequer.
Finalmente, mas ainda em tempo, o assaltante salvo pelo médico irmão do meu conhecido deu a saída para se proteger em caso de assalto. Trata-se de verdadeiro ovo de Colombo, chegando a ser até mesmo divertido. Não vou ensinar aqui para que a saída continue desobstruída. De qualquer maneira, quem tiver interesse basta me enviar um email que terei imenso prazer em explicar.
E o melhor de tudo: essa saída também não vai contra a campanha do desarmamento.
***********************
Reitero: Escrevam para mim que passo para cada um por email o que o assaltante ensinou para o médico!!!
Na verdade conheço diversos casos de morte de inocentes por causa de arma de fogo em casa. Não conheço nenhum caso de alguém que tenha matado um assaltante em casa. Sou da opinião que arma de fogo é para profissionais no uso estrito do dever legal. E só. As armas de fogo devem sim ser proibidas e, (o que evitaria o caso de S Caetano), as armas devem ser guardadas no quartel, sob segurança, e nunca em casa. Policial fora do serviço é um cidadão como outro qualquer.
Em tempo d violência e de falta de respeito ao próximo a gente vive algumas experiências inusitadas. Certa vez eu estava entrando em um clube e o porteiro estava barrando um rapaz que eu conhecia de vista. Era pessoa simples que vivia com a avó e fazia trabalho braçal. Era gente boa e, depois de breve escorregão na vida, voltou a ser gente boa. Pois bem. Algum tempo depois disso um grupo de ladrões fez um arrastão na minha rua. Roubaram uma dezena de casas e, estranhamente, pularam a minha. A razão só descobri semanas depois. O autor foi o rapaz e seus amigos. Preservou a minha casa em reconhecimento. De outra feita entraram na minha garagem e levaram minha bolsa com dinheiro e documentos, (e acrediter: meus cartãos bancários com a senha grudada com clipes…). Foi tarefa fácil, porque tenho hábito de deixar o carro aberto (e sou devidamente espinafrado pela minha mulher sempre que ela tem oportunidade). Pois não é que no dia seguinte a bolsa estava de volta na minha garagem com todos os documentos… mas sem o dinheiro. Não mexeram nos meus cartões. A razão descobri depois. Eu havia feito um favor para a mãe do ladrão. Ela um dia me contou isso, só pediu desculpas pelo dinheiro, não tinha como devolver. Então… penso que arma de fogo não melhora em nada nossa vida; só serve para realizar em definitivo algo que ninguém deseja: a morte. Um abraço.
+++++++
Sidney:
Ter seus comentários de volta é imenso prazer para mim e, suponho, para todos os escassos leitores do Boca (na verdade, não tão escassos assim). Quando comentário seu endossa pesado minha opinião, aí não tem preço!!! (risos). Brincadeira, pode escrever para discordar frontalmente. Vc e seus abalizados comentários serão sempre bem-vindos (acho que agora é junto)
Abraços
Paulo Mayr
Só tenho a lamentar que um jovem de 10 anos tenha tamanha atitude diante dos colegas de classe e atire em sua amada professora,que tanto tem o compromisso de lhe ensinar toda cultura,para que caminhe na vida com sabedoria e honra.Esses episódios tristes com adolescentes não deveriam acontecer,mas infelizmente não da para freiar essas atitudes cotidianas nas escolas.
Mas devemos sempre apoiar a campanha do desarmamento nas escolas e nas ruas,por uma vida mais humana e mais menos perigosa.
+++++
Caro Cícero:
É triste, muito triste.
O desarmamento não é na escola, nas ruas… O desarmamento tem que ser na sociedade toda. O semi- ideal: arma só na mão de bandido e de polícia; já que o ideal seria não haver polícia, tampouco ladrão.
Grande abraços
Paulo Mayr
Caro Paulo:
Quando diante de qualquer fato da vida, mormente da natureza desta sua ponderação, temos que identificar a estrutura social, cultural, religiosa, psicológica, psicopatológica ou, o que é mais provavel, a multiplicidade de fatores presentes no ocorrido.
Assim, frente ao acontecimento em tela, não se dispõe de dados substanciais que permitam uma aproximação conclusiva.
Quanto ao fato descrito pela imprensa, há uma perplexidade de todos os que viveram, de uma forma ou de outra, o sinistro, que sugere um possível perfil psicótico provavelmente delirante, tal como pode ser encontrado nos processos esquizofrênicos.
As atitudes preventivas para situações com esse perfil estariam no campo da Saúde Pública, com o objetivo de diagnosticar indícios de doenças mentais, na população.
Lamentar que em nosso país, na área de Psiquiatria, as autoridades sanitárias não conseguem administrar nem a fase curativa, muito menos a preventiva, como apontado constantemente pelos pareceres da Associação Médica Brasileira e pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
Fanatismo religioso já imolou crianças nos altares.
Disputas étnicas redundaram em massacres a machadadas de crianças, adultos e idosos.
Motivação econômica sustentou sistemas de corrupção com desvios de verbas da área de saneamento básico e atendimento primário à Saúde, provocando a morte por desnutrição e diarréia de incontáveis crianças, patrocinada por uma classe de políticos infanticidas.
Não se pode, assim, encontrar uma explicação única para o ocorrido, sendo que a solução de proibição de venda de armas pode não ser uma resposta mais adequada.
As “doenças” podem ser muitas e os “tratamentos” idem.
++++++
Caro Armando:
Muito boas suas observações. Se, depois de conhecer mais o esse caso específico, quiser fazer um texto a respeito, é só mandar.
Grande abraço
Paulo Mayr
Olhe, se você tem tanto pavor de armas, certo, ok, não as tenha. Mas não venha tirar meu direito de defender minha casa.
Repito: guarde o seu medo para si! Não venha tirar meu direito!!!
E esse tal conselho do ladrão para o seu amigo é filosofia de botequim. Imagine se um ser humano, vaidoso por definição, vai dizer o contrário. Não, né!!!! Vai dizer que ele é o fodão, ninguém tem chance com ele, eu faço e aconteço, blá blá blá…
++++
Caro LM:
Eu não tenho mesmo arma.
Quanto ao resto do que vc escreveu, não entendi bem.
Se quiser escrever novamente, legal.
Abraços
Paulo Mayr