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Vidros de Molho Inglês/ Azeite e a Faxineira; Severo Gomes, Nossa Elite e o Escultor Temperamental

Meu total desprezo e repugnância por esses produtores/importadores de azeite,  cujas aberturas dos vidros são verdadeiras crateras.  A eles e às suas genitoras,  dedico o texto abaixo, que escrevi há quase dez anos.

Lá vai:

Com todo o carinho, você preparou para seu namorado ovos quentes, – comidinha para depois do amor, dizia o poeta Vinicius. Aquelas bonitas xícaras, devidamente escaldadas, com um pouquinho de manteiga e sal, prontas para receber os ovos. Mesa posta, torradinhas ao lado, tudo perfeito. O toque saboroso fica por conta do molho inglês. Sentados à mesa, seu namorado gentil , ao inclinar o vidro para as quatro ou cinco gotinhas que realçam o sabor do quitute, derrama um monte de molho e assim se implode todo o romantismo.

Não é o seu namorado que é estabanado. É um absurdo inconcebível, provavelmente feito de propósito para se vender mais molho inglês. Isso acontecia com a marca mais famosa de todas. Revoltado e bom consumidor que sou, troquei de marca. A mesma coisa se repete.

Comentei com o importador da tal marca mais famosa e ele me disse que era assim mesmo. Mas eu duvido que nos Estados Unidos a embalagem dessa marca apresente esse problema. Aliás, desconfio de que não seja problema algum; por incrível que pareça, tenho quase certeza que é de propósito.

Conta muito antiga lenda da comunicação que um bando de marqueteiros estavam reunidos, fazendo mil conjeturas para vender mais determinado óleo de cozinha. A faxineira que estava limpando os vidros da sala deu um palpite:

– Por que vocês não fazem um furo grandão na garrafa?

E foi isso que ficou decidido!

Era famoso o open house que a Ziza promovia no almoço próximo ao Natal para comemorar seu aniversário.

Meu pai é homem preparado e inteligente, mas às vezes insiste em algumas generalizações absurdas. Ele adorava dizer que o povo brasileiro não prestava. Toda vez que ele dizia, eu explicava que o nosso povo era maravilhoso, trabalhador, bom. Argumentava:

– Bota um inglês ou um francês para trabalhar oito horas por dia e ainda ficar quatro horas no ônibus para ver o que acontece!

Pois bem, na casa da Ziza, meu pai se entusiasma e recita sua “definição definitiva”.

Vira-se para ele o Severo Gomes, contemporâneo dele de Faculdade, e diz:

– Hiram, não é o povo brasileiro que não presta. É a elite que não presta. Nós é que não prestamos!!!

Rindo ao seu lado, lhe disse.

-Cansei de falar isso pra você, lembra-se?

Comerciantes também são caso à parte e a piadinha do escultor é ótima.

O presidente da Associação Comercial encomendou para um escultor temperamental uma grande obra que representasse o comércio. O artista aceitou desde que ninguém visse o trabalho antes que estivesse concluído.

No dia da inauguração, toda a cidade reunida, prefeito, governador, rádio, tvs… Quando se retira a imensa lona que cobria a escultura, espanto total.

– Oh…!!! – exclamou a plateia.

A escultura era uma imensa fila de homens nus, um atrás do outro, o de trás se encaixando no da frente.

O presidente da Associação Comercial foi tomar satisfação com o artista que explicou.

– O senhor não queria um trabalho que retratasse o comércio? O comércio é isso, um querendo estrepar o outro!

O presidente indignado disse que aquilo era um absurdo e garantiu que ele mesmo era sujeito muito honesto.

O artista explicou.

-Exatamente, o senhor, o senhor é o primeiro da Fila.

O importador do molho inglês, junto com  os produtores/importadores de azeite, que ainda usam  a sofisticada técnica da faxineira do buraco grandão para vender mais, deveriam ficar alternando o primeiro lugar na fila com o Presidente da Associação Comercial.

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Escrevi, conforme disse na abertura,  o texto acima há quase dez anos.  E a coisa só piora.  A cada ato/a cada empreitada,  a elite daqui mostra que o escultor da piada e o saudoso Ministro Severo Gomes  estavam  mais do que certos!