Mais uma vez, o Amigo Armando tece bem fundamentados comentários sobre o assunto que toma conta não só dos meios de comunicação, como de todas as conversas nas últimas semanas – Manifestações Populares invadindo Ruas e Avenidas do Brasil.
Lá vai:
Quando representantes do governo, “surpresos”, diante das recentes manifestações em São Paulo e por todo o país exclamaram que não estão entendendo o que se passa, perguntei-me: será possível tanta “inocência”? Ou simplesmente uma declaração ratificadora da alienação dos Estados Unidos de Brasília?
Para se chegar a uma resposta, apresento algumas reflexões:
I. Nos primórdios de nossa civilização, constituíram-se duas classes sociais: a aristocracia (oráculos, sacerdotes, reis, imperadores, mais tarde barões, condes, conquistadores, etc.) e o campesinato. Um referencial histórico da construção de um Estado, dentro de uma concepção cultural, foi o Código de Hamurabi, que teve como objetivo estabelecer um ordenamento social. A Lei de Talião é um exemplo, com clarificação dos limites de uma Ação, suas respectivas Responsabilidades e, nos casos apropriados, as devidas Sanções e Penalizações.
II. Os reis diziam: “EU SOU A LEI”, que na terminologia que apresento “EU SOU O ESTADO”. Criou-se, então, um fosso entre uma estrutura ESTATAL que só atendia às necessidades DAQUELE ESTADO e outra que jogava na penumbra da Lei, os miseráveis e deserdados da primeira, tendo-se na casta dos Intocáveis, na Índia, um exemplo drástico de tal posicionamento. E assim o tempo passou.
III. Com o desenvolvimento da complexidade das relações sociais, os “Intocáveis” pelo Estado do Rei organizaram-se, culminando com a Revolução Francesa e uma nova Ordem Social, ou seja, um Novo Estado. A transição, como nos ensina a História, não foi tão suave assim, tendo dona guilhotina trabalhado bastante nesse período. Na frase atribuída a Maria Antonieta – “se o povo passa fome por não ter pão, que coma brioches” – pode-se exemplificar que até o fim não houve nenhuma reformulação por parte da elite aristocrática.
IV. Entendo que o que acontece aqui, com certo atraso, é o mesmo processo, ou seja, nós, os Intocáveis, e intocados a não ser pelos impostos, pelo Estados Unidos de Brasília, o Estado atual, estamos nos revoltando, na procura de uma nova Organização Social/Estatal. É a busca de nova Ordem que possa atender às mínimas necessidades de um povo, Saúde, Educação, Saneamento Básico, Infraestrutura, etc..
V. Parece-me simples “seu” governante “inocente”: queremos Estado! Mas que Estado? Não esse aí! Nosso país vem de uma longa sucessão de arremedos de Estado: o Colonial, a Monarquia, com louvor ao esboço de mudança por parte de D. Pedro II, a República, o Estado Novo, sendo lendária a posição do caudilho de bombacha (“Lei, ora a Lei…”) definindo sua posição frente aos que lhe eram contrários, a terrível e absurda Constituição de 88, quando seus oponentes já alertavam para o apontamento à ” ingovernabilidade” do país, e finalmente o governo lulapetista. Esse, um marco, com sua Leis, Decretos, “PorCarias”, Resoluções, Medidas Provisórias, tal qual Átila, o Huno (onde seu cavalo pisava nem a grama mais nascia), a DESCONSTRUIR SISTEMATICAMENTE O ESTADO, implantando-se essa coisa que está aí, a tão falada Política de Poder do PT.
VI. Por fim duas considerações:
1. “Seu” governante inocente, não nos dê brioches, a anulação do aumento das passagens de ônibus. Seria uma afronta e uma ofensa a qualquer cidadão pensante tal resolução.
2. A mais preocupante: não temos Robespierre, Danton, nem Marat! A quem poderemos recorrer? Salvo um milagre, sou cético quanto à capacidade do povo brasileiro de produzir uma nova geração de legisladores, senadores, deputados, federais, estaduais e vereadores, em prazo tão premente pela situação que vivemos na atualidade, representada pelas manifestações, pois são tantas coisas a serem feitas, tantos descalabros, desorganização organizada petreamente… Essas manifestações parecem-me que não conseguiram mobilizar o povo que simplesmente se preocupa em sobreviver, comer, trabalhar e ter a bolsa-família, bolsa-desemprego, bolsa-minha casa minha vida, bolsa-móveis, bolsa crack, bolsa presidiário, bolsa-bolsa – e todas mantidas pelo bolso do povo contribuinte. E será esse povo que decidirá nas urnas nossos próximos representantes de Estado. Parevami, come diceva la nonna, saremo tutti fre…(traduzindo: quer dizer que me parece, como dizia a vovó, estaremos todos fu…)
+++++++++++++++++++
Aí estão as considerações do Armando. Apesar da complexidade da coisa, espero que sejam tiradas lições dos últimos acontecimentos e que Estado e Sociedade se entendam e que nós Brasileiros, povo tão bom e sofrido, passemos a ter mais qualidade de vida, tanto do ponto de vista material, quanto espiritual.
+++++++++++++++++++
* Armando de Oliveira Neto
Médico Psiquiatra Aposentado do Serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica
Do Hospital do Servidor Público Estadual
Médico Assistente do Hospital Infantil Cândido Fontoura
Professor/Supervisor pela Federação Brasileira de Psicodrama