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Marginais Fascinantes dos Anos 60 e do Século 21

Rapazes de famílias  bem estruturadas e com certa grana da classe média que entram para a marginalidade  existem há muito. Existem e exercem  curiosidade e até mesmo fascínio.

Mil anos atrás, descobri Hiroito, que havia sido o Rei da Boca do Lixo.

Hoje, na CBN, conheci a história de Fabiano Pini Nasser, que conseguiu se livrar do Crack.

Em 1977, eu  estava lendo o livro BOCA DO LIXO de Hiroito Moraes Joanides, que durante os anos 60 era conhecido em S. Paulo como o Rei da Boca do Lixo.  Até então, havia sido  estudante, lia bons autores e sua vida corria suave junto à família.  O pai é assassinado e o acusam do crime. Dai para frente,  desanda tudo.

Fecho o livro, sento-me à frente da minha Remington, de mais de 50 anos,  (está comigo até hoje)  e,  automaticamente, em menos de meia hora, redijo umas quarenta perguntas para hipotética entrevista.  De acordo com o que havia lido no livro, seria solto nos próximos meses.

Ligo para a Editora, sou informado de que Hiroito já estava na rua.  Consigo falar com ele por telefone.  Marcamos a entrevista.   Na entrevista, conta coisas inacreditáveis a respeito do sub-mundo.  Pequeno, frágil e com óculos, foi ele quem  introduziu o revóver no pedaço.  Além do revóver na cinta, trazia um dentro de um coldre amarrado na perna direita.  Os bolsos direitos de suas calças eram falsos e, permanentemente, sua mão estava no falso bolso segurando a arma.  Disparou muitos tiros sem tirar a arma de dentro da calça.   A entrevista é Publicada em outubro de 1977, no suplemento dominical  FOLHETIM da Folha de S. Paulo.   Brilhante entrevista, graças a uma certa capacidade minha de divagar para conceber boas perguntas e -” muitíssimo principalmente” – o pelo conhecimento  teórico e prático  que a fera tinha. Mais que conhecer o tema, Hiroito  tinha uma fluidez de raciocínio e facilidade de expressão  impressionantes. Fiz praticamente datilografar o que ele me disse.  De certa forma, até fiquei seu  amigo nessa época.    Depois, perdemos o contato e soube que morreu em 1992. Filme com o mesmo título do Livro –  Boca do Lixo -, estrelado por Daniel de Oliveira, foi lançado há um ano e meio.  Minha entrevista com ele, publicada no Folhetim,  já está digitada.  Oportunamente publico.

A história de Fabiano Pini Nasser, hoje com 44 anos,  também transcorre em  altíssima velocidade.  Estudante de boas escolas particulares, passou temporada nos Estados Unidos, mergulha firme na droga e seu sub-mundo durante 17 anos, os seis últimos consumindo e consumidos pelo crack.

Esclarecido como Hiroito, e também com excelente precisão,  fala sobre o assunto, dá interessantes sugestões de como o poder público deve proceder na cracolândia e com os viciados.  Conta que a primeira experiência com o crack é fantasticamente boa e que da segunda à última  a coisa é enlouquecedora.  De quebra, ainda ensina os golpes e abordagens mais utilizados por malandros  e pedintes viciados.  Segundo ele, pedinte de sinal, nunca fatura menos do que R$ 1,500,00 por mês.  A soma mensal de um malandro de boa lábia e bem vestido é muito superior.  No começo,  com roupas bonitas e sua ótima aparência,  aplicava golpes bem engendrados.  Com a decadência física, foi obrigado a se tornar pedinte, pura e simplesmente.  De qualquer forma, a grana para a droga estava sempre garantida.

Vale a pena ouvir a entrevista.  Clique aqui