Há poucas horas, atrás da Igreja São Geraldo, Barra Funda, São Paulo, Capital, cachorro começou a latir compulsivamente (como eles sempre fazem) para sujeito mal-ajambrado que passava. O cara não teve dúvida. Pegou uma pedra imensa e partiu em direção ao cachorro.
Foi um tal de o cachorro se esconder nas pernas do dono e o dono e o cachorro correndo para dentro de casa, que só vendo.
Eu vi. Eu adorei.
Segundo o novo acordo ortográfico, “bem” se agrega com hífen a palavras com que ele forma uma unidade semântica (adjetivo ou substantivo composto): bem-aventurado, bem-criado, bem-humorado, bem-educado, bem-nascido, bem-sucedido, bem-vindo, bem-visto (estimado).
Mas não para nisso: pelo mesmo acordo, “bem” se aglutina com o termo seguinte em formações como benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, benquerer, benquerido, benquisto.
Sem dúvida, “benfeito” é a grande novidade que o acordo ortográfico trouxe no caso de palavras compostas com “bem”.
E o chato é que é mais um complicador para quem escreve, pois nem sempre será “benfeito”.
Quando, por exemplo, o conjunto representa um advérbio modificando um verbo/particípio, escreve-se “bem feito”. Exemplo: “O bolo foi bem feito por Maria”.
Repare que o exemplo é uma oração na voz passiva e que é possível a inversão dos termos: “O bolo foi feito bem por Maria”.
Além disso, se “bem” sair da frase, o sentido não será prejudicado: “O bolo foi feito por Maria”.
Também é “bem feito”, separado, quando é uma expressão interjetiva: “Bem feito para você por não seguir meus conselhos!”
E quando escrevemos “benfeito”, junto?
Quando o conjunto “bem + feito” (= benfeito) representa um adjetivo qualificando um substantivo: “Um bolo de noiva benfeito é trabalhoso”.
Repare que neste caso a inversão dos termos resulta numa frase estranha: “Um bolo de noiva feito bem é trabalhoso”.
E, se “bem” sair, o sentido será prejudicado: “Um bolo de noiva feito é trabalhoso”.