Infiel e Ayaan Ali , Cavalos de Tróia do Imperialismo???

A Editora Companhia das Letras lançou nesta semana o Livro Infiel da escritora Ayaan Hirsi Ali. Estava prevista para amanhã palestra dela em S. Paulo que foi cancelada por problemas pessoais da autora que não pode viajar, conforme informa hoje nos Jornais a Editora.

A propósito do livro e, principalmente, do papel que Ayaan está desempenhando no cenário Mundial, apoiando a política dos Estados Unidos de dominação do mundo, Guilherme Lobo, engenheiro, escreveu o polêmico artigo que se segue. Boca No Trombone enviou o texto dele para a Companhia das Letras se pronunciar. A Assessora de Imprensa da Editora, Renata Megale, informou, por telefone, às 16,25 hs de ontem, que a empresa não iria se manifestar sobre o assunto.

Assim sendo, publico a seguir o polêmico comentário. O texto é longo, e vale a pena. O autor ainda dá algumas fontes que podem ser usadas para pesquisa.

Se você quiser fazer algum comentário sobre o texto que se segue ou ainda Botar a Boca no Trombone sobre qualquer assunto, mande mensagem para meu email e verei o que pode ser feito. paulomayr@ig.com.br

Tomem fôlego pq o texto é longo, complexo e traz muita informação.
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Cavalo de Tróia da Somália sábado em SP
Por Guilherme Lobo por ocasião do lançamento do livro Infiel em outubro 2007

Estava prevista para amanha na Livraria Cultura do Conjunto Nacional em São Paulo a palestra de um cavalo de Tróia despachado pelo Sr. Paulo Wolfowitz, aquele que recentemente foi destituído da presidência do Banco Mundial por corrupção, e que arquitetou os genocídios em curso no Iraque e Afganistão.

O cavalo de Tróia original foi um presente de grego dos gregos aos troianos. Durante a guerra de Tróia, os gregos que a sitiavam engendraram um embuste para tomá-la. Na Antiguidade era usual um general derrotado render seu próprio cavalo ao vitorioso. Os gregos construíram um grande cavalo de madeira e o trouxeram para as aforas dos muros de Tróia e o ofertaram como sinal de respeito e derrota. Exuberantes, os troianos aceitaram-no e comemoraram em seguida em grande estilo. Já bêbados, não se deram conta quando alguns poucos guerreiros gregos desembarcaram do interior do cavalo e abriram as portas dos baluartes de Tróia, em seguida invadida e dizimada pelos gregos.

A grande batalha geopolítica que hoje se trava tem contornos militares e ideológicos. De um lado o Império e seus estados vassalos defendendo o direito americano de intervir em qualquer país que se oponha aos seus interesses (ver excertos do discurso do senador Roberto Byrd ao cabo deste texto). Do outro, alguns estados tentando exercer sua soberania.

Os Estados Unidos continuam crendo serem a nação ungida para ditar os destinos de outros países pelo fato de terem libertado um continente alheio dos horrores do nazismo, malgrado haverem despejado duas bombas atômicas em japoneses inocentes. O AEI [Instituto Americano de Empresas], uma Casa do Saber de direita, constitui um exemplo acabado da forma como esta ideologia é disseminada.

Sua missão é “defender os princípios e melhorar as instituições da liberdade americana e capitalismo democrático – governo limitado, empresa privada, liberdade e responsabilidade individual, defesa vigilante e efetiva de políticas estrangeiras, responsabilidade política e debate aberto” (extraído de www.aei.org)

A guerra do Iraque, um genocídio para a matança indiscriminada de inocentes, constitui um exemplo da forma como esta missão é operacionalizada. Em http://www.aei.org/publications/contentID.20070906163304235/default.asp podem ser obtidos mais detalhes. Atualmente o grande projeto do AEI é aniquilar a população do Iran, pelo fato de se recusar a se curvar aos ditames do Império

A justifica para o genocídio iraquí exige se diabolize o Islam, em particular o praticado por insurgentes que não se curvam aos ditames do Império. As diatribes de uma muçulmana renegada contra o Islam são água para o moinho do AEI, uma útil ferramenta para a campanha de propaganda que tenta justificar o massacre. Daí a concluir que o sangue muçulmano é mais barato é um passo, e tudo estará justificado da mesma forma como era justo que os nazistas eliminassem judeus.

Claro está que o AEI imediatamente contratou esta apóstata, a Sra. Ayaan Hirsi Ali e está promovendo a divulgação de seu livro em diversos países do mundo. Para se ter uma idéia de quão legítimo é este cavalo de Tróia despachado por Washington, basta ler um excerto do folheto da Companhia das Letras para vender o seu livro.

“É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio”.

Já o portal apresenta a autora assim: “Autobiografia de uma mulher extraordinária, que foi criada nos costumes tribais da Somália, sofreu mutilação sexual e espancamentos brutais na infância, foi muçulmana devota, fugiu de um casamento forçado, tornou-se deputada na Holanda, clamou pelos direitos das muçulmanas, criticou Maomé e está condenada à morte pelo fundamentalismo islâmico”.

Tal e qual um cavalo de Tróia, nenhuma advertência sobre quem é a Sra. Ayyan Ali. Na Holanda até 2006 foi deputada e quadro do VVD, partido de extrema direita que defende a xenofobia e a expulsão de imigrantes que têm orgulho de suas próprias raízes, por dificultar a integração em seu novo pais; justo no pais que recebeu a família de Baruch Espinoza quando expulsa de Portugal por ser judeu no século 17. É uma ironia que sua cidadania holandesa haja sido cassada pelo governo holandês enquanto o VVD estava no poder.

Os anúncios de venda e promoção do livro omitem o fato que o governo holandês cassou sua cidadania holandesa por haver mentido ao preencher a documentação de asilo, ocultando o fato que já dispunha de asilo político de outra nação, e praticando falsidade ideológica (seu verdadeiro nome é Magan e ñ Ali).

Ademais a autora revela que teria sido submetida a um casamento forçado, porém oculta o fato que se tratava de um casamento arranjado (bem diferente de forçado) e que ela concordou com este casamento por lhe convir, pois o noivo vivia no Canadá. E em consonância com sua personalidade, abandonou o vôo de África para o Canadá quando este escalou na Alemanha. De lá foi para a Holanda onde pediu asilo político. Enfim o caráter da Sra. Ayaan em nada fica a dever a um cavalo de Tróia.

Enfim em um mundo que se torna cada dia mais polarizado, com os neo conservadores se atribuindo todos os direitos, e com a China e Rússia se opondo claramente a esta divisão, é necessário muita cautela ao ler um livro escrito por uma autora cujo curriculum está eivado de traições, mentiras, e adesões por conveniência. Afinal a autora prima por instigar o ódio, e fomentar o preconceito. Recorre a uma técnica clássica e muito eficaz, nomeadamente: a divulgação da violência sofrida é forma segura de granjear adeptos para a vítima que muitas vezes capitaliza sobre esta piedade para deturpar conceitos para seu próprio beneficio. A vida da Sra. Ayaan Hirsi Ali é um exemplo acabado desta técnica. O fato da Sra. Ayaan haver sofrido violências não lhe outorga o direito de recorrer a técnicas abjetas para comercializar a própria imagem e vender seus livros.

Não se trata de defender o Islam ou o Irã; trata-se de defender a verdade e mormente o direito de não sermos empulhados pelos interesses do Império, de seus agentes e pela ânsia vendedora da Companhia das Letras.

O Império arma muito bem sua teia de interesses, e muitos para sobreviver preferem ignorar as verdades inconvenientes. Como muito bem colocou Bertold Brecht no famoso trecho em que o personagem não reagia às injustiças porque não era judeu, tampouco muçulmano e muito menos homossexual.

Em 19 de março de 2003, antes do inicio do massacre do Iraque, um senador americano, Roberto C. Byrd de Virginia Ocidental, previu o início da tragédia americana. A seguir trechos de seu discurso condenando o então projeto de invadir o Iraque. Em verdade faria melhor a AEI direcionando para o senador sua verba para salvar a imagem dos EUA que aplicando na neo Condolência Rice.

“Hoje choro por meu país. Eu tenho acompanhado os eventos dos últimos meses com o coração pesado. Não é mais a imagem da América forte e benevolente guardiã da paz.

Em vez de debater com aqueles de quem discordamos, exigimos obediência ou ameaçamos com recriminações. Em vez de isolar Saddam Hussein, parecemos haver isolado a nós mesmos.

Dizemos que os Estados Unidos têm o direito de disparar na direção de qualquer canto do mundo onde pode haver um suspeito, na guerra contra o terrorismo. Afirmamos esse direito sem a sanção de qualquer organização internacional. Como resultado, o mundo se tornou um lugar muito mais perigoso. Nós alardeamos nosso status de superpotência com arrogância. Tratamos os membros do Conselho de Segurança da ONU como ingratos que ofenderam nossa dignidade principesca ao erguer suas cabeças. Alianças valiosas foram rompidas.

Depois que a guerra acabar, os Estados Unidos terão muito mais a reconstruir que o Iraque. Teremos que reconstruir a imagem da América no mundo todo.

O que está acontecendo com este país? Quando foi que nos tornamos uma nação que ignora e desvaloriza seus amigos? Quando foi que decidimos correr o risco de minar a ordem internacional, adotando uma abordagem radical e doutrinária para usar nosso espantoso poder militar? Como é que pudemos abandonar os esforços diplomáticos, quando a agitação dos movimentos em todo o mundo clama pela diplomacia?”

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