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DIA DOS NAMORADOS, SEM O NAMORADO

– 12 de junho, dia dos namorados, bela data.   Pena que o Roberto não ache.

– Quem é você?

– Eu vim no lugar do Roberto.

– Lugar do Roberto?

– Sim, seu namorado!

– E ele, cadê ele?  Eu marquei nesse restaurante que ele adora.

– É mas, pelo que ele me falou, nem que o jantar fosse lagosta com pitadas de ouro em pó, ele viria.

– Afinal, quem é você?

– Eu sou do FALAMOS POR VOCÊ.  Sim, do Falamos por você,  e sabe o que ele mandou eu falar por ele para você?

– Não faço a menor ideia.

– Pois bem, ele disse para eu falar por ele pra você que ele quer terminar o namoro.

– Mas…

– Ainda não acabei de falar por ele. Sim, terminar o namoro.  E mais, que amanhã ele deposita a parte dele do jantar na sua conta.

– Só isso?

– Não, ele falou para colocar a parte dele  do jantar numa quentinha que ele vai  saborear, enquanto folheia uma revista, o que é, nas palavras dele, muito melhor do que jantar em sua companhia.

– Terminou?

– Sim, da parte dele, terminou.  Agora, posso falar em meu nome?

– Lógico, fala.

– Empresta seu celular para eu chamar um Uber?  Porque o meu está sem bateria e sem crédito?

– Toma.

– Obrigado.

– O Uber chegou, tchau.  E, adaptando a música, do fundo do coração, lhe digo:  Dias  (dos Namorados)  Melhores virão.

– Ah, vá pro inferno!

TONHÃO

Eu, eu sempre fui um cara disciplinado e pontual; já meu amigo Antônio, sempre atrasado. Às vezes, na época do colegial, dormi em sua casa. A coisa era muito simples para ele. A aula começava às 7,30 da manhã. 7,30 era o horário que colocava para o despertador tocar.
Nessa sexta-feira mesmo, convidei para ir ver a estreia da peça em que trabalhei no fim de semana. Lógico, ele apareceu. Pontualmente, assim que terminou o espetáculo.

Quem seria o responsável pela única vez em que cheguei atrasado à Rodoviária? O Antônio, naturalmente.

-Tonhão, o ônibus para Santo Antônio da Platina sai às 20 horas. Meu irmão já deixou tudo organizado lá na Fazenda para um super churrasco no sábado. Não vai atrasar, hein!

-Pode deixar, Mayr, às 19,00, tô chegando de Uber ao seu Apartamento.

-Cê ficou louco? Sexta-feira, trânsito infernal e você acha que em menos de uma hora a gente anda de Higienópolis até a Rodoviária.

-Lógico que não fiquei louco. Não quero é estresse.

-Ah bom, então você virá de helicóptero me buscar para irmos à Rodoviária, é isso?

-Não faça ironia barata. Frasista, microcontista, como você não tem direito a fazer ironias baratas, deixa isso para os engenheiros como eu.

-Mas você, com essa sua obsessão pelo atraso, subverte as coisas. Eu faço ironias baratas e você, engenheiro, erra em cálculos que um garoto recém-alfabetizado tira de letra.

-Mayr, o cara com cujo pessimismo eu convivo há cinquenta e dois anos.

-Tonhão, não precisa ser Amyr Klink para saber ser impossível na hora do Rush das sextas-feiras, em uma hora, chegar a qualquer lugar que seja em São Paulo.

-Tá bom, eu chego às seis e meia.

-Tonhão, seis horas cê passa em casa e não se fala mais nisso.

-Seis e quinze.

-Seis horas, Tonhão!

-Seis e quinze.

-Seis Horas, Tonhão.

-Seis e quinze, Mayr.

-Tá bom, seis e quinze!

-Tonhão, sete e vinte e cinco, cê ficou louco!

-Mayr, o seu Jorge, aqui do Uber, disse que é mestre em pegar atalhos na hora do Rush

-Tonhão, além de mestre em Atalhos, o senhor Jorge precisa saber parar a passagem do tempo.

-Bota sua mala aí no banco de trás com você para a gente não perder tempo.

-Nem adianta a gente ir, é impossível.

-Chega de pessimismo.

-Seu Jorge, o senhor acha que dá?

-Seu Mayr, eu sou bom em atalho, mas não faço milagre.

-Chega de conversa mole, entra logo, Mayr.

-Tchau, seu Jorge.

-Por favor, o ônibus das oito para Santo Antônio da Platina.

-Agora são oito e quinze. O ônibus das oito saiu às oito.

-Meu irmão vai ficar muito magoado de a gente não ir ao churrasco que ele vem produzindo há três dias com tanto carinho.

-Mayr, amanhã você é meu convidado para um rodízio no Fogo de Chão!

-Tonhão..

-Fala, Mayr.

-Tonhão, vá à merda!